Grande Prémio de Teatro Português 2011

Londres, de Cláudia Clemente

Considerações do Júri do Grande Prémio de Teatro Português

Todos os anos algumas dezenas de autores ou candidatos a autores teatrais concorrem ao Grande Prémio de Teatro Português SPAutores/Teatro Aberto. Mas são raros os textos que se apresentam com um mínimo da qualidade exigível, o que talvez não seja de estranhar. “O Teatro é um grande meio de civilização, mas não prospera onde a não há”, escreveu Garrett há quase 200 anos. Para escrever/fazer teatro é preciso amar o teatro, necessitar do teatro, conhecer o teatro e pensar o teatro, o que não é preocupação do Governo, nem estimulado pelos poderes públicos deste país desde Garrett. Um país que, se nada for alterado, corre o risco de ser um país sem teatro, corre o risco de ser um país sem país.

Londres, a peça que em 2011 se distinguiu da maioria, mereceu amplamente ser premiada com a estreia que agora acontece no palco do Teatro Aberto, pois é um texto inteligente e sensível, que aborda com qualidade um problema humano e tocante. Que possa ser um incentivo para próximos candidatos.

Rui Mendes

Como espectadora de teatro, gosto de ser surpreendida por um acto de magia e, ao mesmo tempo, ser conquistada pela força da verdade do que vejo e oiço.

Enquanto membro do júri do Grande Prémio de Teatro Português SPAutores/Teatro Aberto, anseio por textos onde a surpresa e a verdade estejam latentes, textos cujas histórias, personagens e linguagem revelem a possibilidade de, com eles, se fazer magia e verdade no palco.

Londres, de Cláudia Clemente, conquistou-me pela sua sinceridade inesperada. Quando li este monólogo, o texto quase me fez sentir desconfortável e, apesar disso, não consegui parar de ler: agarravam-me ao falar comigo, precisavam que eu ouvisse; contavam-me tudo, mas mesmo tudo, mesmo coisas que pensei que talvez não deveria estar a saber, coisas de família que normalmente ficam em família…

É verdade que é uma história muito pessoal e, talvez por isso, muito frágil quando exposta num palco, onde se partilha em voz alta. Mas todas as histórias são assim: particulares a quem as conta e universais quando são partilhadas.

A vida e a morte são universais. Os pais e os filhos são universais.

Marta Dias

Londres é um depoimento pessoal muito bem escrito do ponto de vista literário, num estilo de prosa poética com grandes potencialidades dramáticas a que toda a equipa criativa do espectáculo do Teatro Aberto soube dar dimensão universal, com especial destaque para João Lourenço, o encenador, Vera San Payo de Lemos, a dramaturgista e Carla Maciel, a intérprete, sem esquecer que, por essência e fundamento, o teatro é uma arte colectiva.

Londres é uma peça visceral, catártica e corajosa na medida em que expõe publicamente emoções pessoais da autora misturadas com os pequenos fait-divers e nonsenses da vida. O teatro e a vida também são feitos destas coisas. É uma peça movida pela dor, pela mágoa e pelo sentimento de perda, mas também por uma grande vontade de viver.

Francisco Pestana

Excertos de DIAS, Marta, MENDES, Rui e PESTANA, Francisco “Considerações do Júri” in Londres (Programa). Lisboa: Teatro Aberto, 2012. pp. 33, 34 e 36.