GRANDE PRÉMIO DE TEATRO PORTUGUÊS 2008
Uma Família Portuguesa, de Filomena Oliveira e Miguel Real
Sobre Uma Família Portuguesa, de Cristina Carvalhal
Este espectáculo, Uma Família Portuguesa, nasce de um convite que me foi feito pelo Teatro Aberto pela mão do seu director artístico, João Lourenço. E este facto é relevante porque foi sob a sua direcção que ensaiei os meus primeiros passos como actriz, foi com ele que sofri as primeiras dores da criação, chorei e partilhei as minhas dúvidas de miúda sobre prosseguir na profissão, num tempo em que as oportunidades de trabalho não eram tão diversificadas quanto são hoje. O Teatro Aberto foi, se assim se pode dizer, e durante sete anos, a minha primeira família artística. Como qualquer filho, impôs-se em determinado momento o romper do cordão umbilical e a necessidade de sair de casa para conhecer mundo.
Volvidos cerca de dezassete anos, a componente afectiva teve um peso inegável no aceitar deste convite. Mais, tratando-se de uma história sobre uma família, e uma família portuguesa, pareceu-me uma oportunidade expressamente oferecida pelo “destino” para uma reflexão pessoal sobre as várias famílias que vamos integrando ao longo da vida, desde a primeira – a minha própria família – a essa outra maior, a que poderíamos chamar de portuguesa, se nos é permitida essa generalização.
Quando li o texto Uma Família Portuguesa, José Gil e o seu Portugal Hoje ou O Medo de Existir ecoava ainda fresco, na minha memória, e à luz das suas proposições, pareceu-me que poderia rir de mim, e propor que ríssemos de nós, portugueses, através deste espectáculo.
Tenho de agradecer aos autores, Filomena Oliveira e Miguel Real, a liberdade que me deram de intervir no texto. Procurando não o desvirtuar, no trabalho dramatúrgico que fizemos, ousámos alguns cortes, o enxerto de outros materiais textuais e musicais, alterações na sequência narrativa e a criação de uma figura que me é bastante cara – a de um narrador. Pareceu-nos que desta forma poderíamos responder melhor à necessidade de evocar fantasmas e fragmentos que habitam a nossa memória da história recente de Portugal.
Excerto de CARVALHAL, Cristina “Sobre Uma Família Portuguesa” in Uma Família Portuguesa (Programa). Lisboa: Teatro Aberto, 2010. p 7.

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