A BOA PESSOA DE SETZUAN
BERTOLT BRECHT
Espanto e estranheza, mas também consternação e revolta por o mundo não ser como se desejaria que fosse, ecoam […] em A boa pessoa de Setzuan de Bertolt Brecht, quando Shen T, a boa pessoa que se prejudica ao tentar praticar o bem e obtém benefícios das suas atitudes mais duras e impiedosas, interpela os deuses a reconhecer que: “Tem de estar qualquer coisa errada no vosso mundo. Porque é que se recompensa a maldade e tão duramente se castiga quem é bom?”
Setzuan: o nome do local em que se desenrola a história de Shen Te evoca o nome de uma província excepcionalmente fértil e frondosa, situada a Oeste da China, não longe das montanhas do Tibete. Contudo, as características de Setzuan não correspondem à descrição da rica província chinesa, nem a sua situação geográfica se deixa facilmente delimitar no mapa do mundo. Como Brecht refere, no seu diário de trabalho, Setzuan é sobretudo uma construção poética idêntica a Kolkoa, Londres ou Mahagonny, de outras peças suas, um lugar mítico, “onde ainda há deuses e já existem avisões”, um lugar com o grau de realidade e fantasia adequado à forma de narração escolhida, a parábola.
"Sobre «A boa pessoa de Setzuan»" in A boa pessoa de Setzuan (Programa). Lisboa: Teatro Aberto (1984).
versão João Lourenço, José Fanha, Luiz Francisco Rebello, Vera San Payo de Lemos dramaturgia Vera San Payo de Lemos música Eduardo Paes Mamede, Paul Dessau cenário António Casimiro figurinos António Casimiro luz António Mileu som António Reis, Jacinto Cardoso encenação João Lourenço com Amílcar Botica, Anna Paula, António Montez, António Reis, Argentina Rocha, Artur Mendonça, Carla Andrino, Carlos Pisco, Carmen Santos, Fernanda Figueiredo, Francisco Pestana, Irene Cruz, Jorge Gonçalves, José Drummond, José Peixoto, Manuela Cassola, Mário Sargedas, Mário Viegas, Melim Teixeira, Rui Miguel, Tiago Vidigal, Vasconcelos Viana, Waldemar de Sousa